segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Texto: Grandes Navegações e a Conquista da América

AS GRANDES NAVEGAÇÕES

INTRODUÇÃO

No século XV (1401-1500), a Europa passava por grandes transformações nos modos de viver e pensar de seus habitantes. Essas transformações foram tão marcantes que os próprios europeus daquele tempo consideravam que estavam vivendo em uma nova era: a Época Moderna. Que transformações eram essas e que novidades traziam? Após séculos de insegurança, provocada principalmente por guerras, revoltas sociais e invasões bárbaras, que haviam devastado a Europa, os europeus podiam deixar os castelos fortificados sem medo de serem feridos e mortos.


Com o final das guerras, também diminuíam os problemas da fome e das epidemias, a produção agrícola crescia e, com ela, a população europeia o comércio com o oriente, dominado pelos italianos e também pelos árabes, trazia lucros enormes. Moedas de ouro e prata circulavam pelo mar Mediterrâneo. Os europeus entravam na chamada Idade Moderna. Porém, o comércio ainda estava limitado aos mares Mediterrâneo, do Norte e Báltico.


A EXPANSÃO MARÍTIMA EUROPEIA - RUMO AO DESCONHECIDO
Há muitos séculos o oceano Atlântico atraía a curiosidade dos navegantes europeus mais ambiciosos. Mas as poucas expedições que se aventuraram mar adentro nunca mais volta¬ram. Essas tentativas malogradas criaram na imaginação popular as mais fervilhantes fantasias acerca do oceano desconhecido: monstros marinhos, águas ferventes e pedras-ímã, que puxavam as embarcações para o fundo, na altura do Equador. Por volta do ano 1400 não se conhecia o real formato da Terra. Era senso comum considerá-la plana como uma mesa, terminando em abismos sem fim.

Mas, por que, então, os europeus lançaram-se rumo a lugares completamente desconhecido por eles? Vejamos as motivações dessa incrível jornada:

• a partir do final do século XIV (por volta de 1400), houve o crescimento populacional da Europa, criando a necessidade de mais alimentos e matérias-primas para que os produtos pudessem ser fabricados;

• havia a necessidade dos outros países europeus de encontrar outro caminho para chegar ao Oriente. Isso porque o controle comercial de especiarias e artigos de luxo do Oriente que estava nas mãos dos árabes e italianos, como já vimos no trimestre anterior. Os árabes traziam do Oriente muitas especiarias e artigos de luxo, revendiam para os italianos, que revendiam para o resto da Europa por preços muito mais caros.

• também havia a falta de ouro e prata na Europa, que eram importantes para a fabricação de moedas.

• a nobreza conseguiria, com apoio dos Estados absolutistas, novas terras, além de postos militares ou do governo nas regiões conquistadas;


• a Igreja Católica tinha o desejo de combater os “infiéis” de outras religiões, (como os muçulmanos), além de conseguir novos fiéis, nos outros continentes, através da catequização (lembra-te: era a época da Contrarreforma);

• o Estado absolutista aumentaria seus poderes político e econômico, dominando e explorando novos territórios fora da Europa. Por isso financiou grande parte viagens marítimas;

• o grupo dos mercadores, isto é, a burguesia, desejava aumentar ainda mais seu comércio através da conquista de outros territórios. Por isso, também vai financiar uma parte das expedições marítimas, junto com os banqueiros (donos de bancos na Europa) e os reis absolutistas;

• os reis absolutistas queriam se livrar dos grupos “indesejados” em seus países: pessoas de outras religiões, pobres, ladrões, prostitutas, mendigos,...;

• a ciência renascentista e o contato comercial com os árabes também impulsionaram as grandes navegações, através de novas invenções e do desenvolvimento de técnicas e instrumentos já existentes: caravela, bússola, astrolábio, cartografia, canhão de bordo, imprensa,...;

• os inimigos dos cristãos, os turcos (de religião muçulmana), conquistam a cidade de Constantinopla em 1453, bloqueando grande parte do comércio europeu pelo mar Mediterrâneo (ver figura ao lado). Isso também contribuiu para que os países europeus tentassem encontrar uma nova rota de comércio com o Oriente (aliás, esse ano marca o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna);

• graças ao Renascimento e à Reforma Protestante, surge um “novo homem”, menos temeroso da natureza, mais confiante em si e mais desejoso de riqueza. A mudança de um pensamento teocêntrico para um pensamento antropocêntrico, além das novas invenções náuticas, também ajudaram os europeus a enfrentar o “Mar Tenebroso”, como era conhecido o Oceano Atlântico até então.


OS PRIMEIROS PAÍSES A PARTIREM
RUMO AO OCEANO ATLÂNTICO

Os primeiros países e enfrentarem as águas do Atlântico foram: Portugal (primeiro Estado absolutista europeu, com a Dinastia de Avis, em 1385) e Espanha (unificado politicamente em 1492, com o casamento de Fernando, do reino de Aragão, com a rainha Isabel, do reino de Castela).



PORTUGAL FOI O PRIMEIRO PAÍS A PARTIR PARA
AS GRANDES NAVEGAÇÕES. ISTO PORQUE:

• foi o primeiro país da Europa a se unificar em torno de um rei absolutista, durante a dinastia de Avis. Esse governo irá financiar as grandes navegações, junto com a burguesia;
• no século XV, Portugal era um país onde não existiam guerras. Isso possibilitou ao governo português ter dinheiro para investir nas grandes navegações;
• Portugal pôde lançar-se às grandes navegações por ser banhado em toda a sua costa oeste pelo oceano Atlântico;
• havia o incentivo aos estudos e pesquisas de navegação, pelo Estado absolutista português, através da “escola de Sagres” (que, na verdade, não foi uma escola no moderno conceito da palavra, mas um local de reunião de navegadores e cientistas onde, aproveitando a ciência dos doutores e a prática de hábeis marinheiros, se desenvolveram novos métodos de navegar, desenharam cartas e adaptaram navios);
• havia, por fim, a grande experiência portuguesa na navegação e a existência de uma burguesia comercial. Com dinheiro, portanto, para investir, junto com o Estado absolutista, nas grandes navegações.


AS ROTAS MARÍTIMAS DE PORTUGAL E ESPANHA


Enquanto os portugueses procuravam uma nova rota para o Oriente, contornando a África, os espanhóis chegavam a um novo continente, a América. Este novo continente foi conquistado por Cristóvão Colombo em 1492, a serviço da Espanha, que seguiu uma estratégia diferente dos portugueses: Colombo seguiu em linha reta rumo a Oeste, pensando em dar a volta ao mundo para chegar ao Oriente.


NAVEGAÇÕES PORTUGUESAS

1415 – conquista da cidade de Ceuta, no norte da África,
1419 – expedição portuguesa chega à ilha da Madeira.
1431 – reconhecimento do arquipélago dos Açores.
1434 – Gil Eanes ultrapassa o Cabo Bojador.
1482 – Diogo Cão chega ao Zaire.
1488 – Bartolomeu Dias atinge o Cabo sul-africano (depois denominado cabo da Boa Esperança).
1498 – Vasco da Gama atinge a cidade de Calicute, nas Índias. Portugal alcança o objetivo perseguido durante um século.
1500 – Pedro Álvares Cabral, em viagem para as Índias, atinge o Brasil.


NAVEGAÇÕES ESPANHOLAS

1500 – Vicente Pinzón chega até a foz do rio Amazonas, chamando-o de mar Doce.
1513 – Vasco Nunes de Balboa atinge o oceano Pacífico.
1519 – Fernando de Magalhães inicia a primeira viagem de circunavegação através do mundo, terminada em 1521.


OS MEIOS UTILIZADOS PELOS EUROPEUS PARA
A CONQUISTA OS POVOS PRÉ-COLOMBIANOS


 Uso da pólvora (armas de fogo, incluindo canhões). As armas, além de matarem com mais facilidade que as armas indígenas, provocavam grande impacto psicológico, devido ao barulho provocado, entre os nativos, pelos disparos.
 Uso do cavalo, proporcionando ao conquistador grande mobilidade na hora dos ataques e deslocamento.
 Uso do aço: com as armas de aço (espadas, lanças, facas, escudos, armaduras,...), os conquistadores facilmente podiam atacar e se defender dos nativos, que apenas tinham arcos, flechas, pedras, machados e lanças (ver figuras abaixo);
 O conquistador também foi ajudado pelas diversas doenças infecciosas que trouxeram da Europa (sarampo, tifo, varíola, malária, gripe,...), contra as quais os indígenas não tinham como sobreviver por não terem adquirido anticorpos.
 Uso da religião católica, pois os nativos ficavam mais “dóceis”, obedientes. Já que a Igreja pregava a não violência dos nativos, ficava mais fácil o homem branco dominá-los.
 Alguns povos acreditaram que os europeus eram divindades e aceitaram sua penetração do meio de seu povo por isso. Isso facilitou a exploração de tais povos pelos europeus.
 Os europeus estimulavam a luta entre tribos rivais para que essas destruíssem umas às outras.


CONSEQUÊNCIAS DA EXPANSÃO MARÍTIMA PARA A EUROPA

 montagem do Pacto Colonial, isto é, a exploração das metrópoles (países europeus) sobre suas colônias (territórios conquistados). Ex.: Portugal explorava o Brasil. Pacto ou Sistema Colonial – as colônias só poderiam comprar e vender para a metrópole, fornecendo matérias-primas e produtos agrícolas tropicais a preços baixos e comprando das metrópoles produtos fabricados a preços mais elevados. Não poderia haver competição entre a colônia e a metrópole;

 o comércio diminuiu bastante no Mediterrâneo, sendo que o oceano Atlântico torna-se o lugar onde circulam cada vez mais navios transportando mercadorias;

 fortalecimento dos Estados absolutistas e da burguesia mercantil;

 divulgação da religião cristã nos demais continentes: América, Ásia e África;

 disputa pelo domínio do mundo entre Portugal e Espanha: a Bula Intercoetera (1493), assinada entre os dois países, dividiu o mundo em um meridiano que passava a cem léguas do arquipélago de Cabo Verde; depois, o “Tratado de Tordesilhas” (1494) passa a dividir o mundo a partir de um meridiano traçado a trezentos e setenta léguas de Cabo Verde (ver figura abaixo).

 melhoria da tecnologia ligada às navegações (novos navios, armas, aparelhos de navegação,...), ampliação dos conhecimentos geográficos (novos mapas) e conhecimento de novos elementos da fauna e flora de locais fora da Europa.

CONSEQUÊNCIAS DA EXPANSÃO MARÍTIMA PARA
OS POVOS CONQUISTADOS
 Morte e destruição dos povos através do uso da pólvora, de cavalos, da escravidão, do emprego do aço, das doenças trazidas pelos brancos europeus e da desorganização do modo de vida nativo.
 Descaracterização cultural devido ao contato com novos costumes e à ação dos religiosos.
 Apropriação e devastação contínua da flora e fauna da América.

TEXTO ADICIONAL: O COTIDIANO DOS VALENTES MARINHEIROS...

Feito o abastecimento, a embarcação saía navegando pelo rio Tejo para logo atingir as águas do “Mar Oceano”, termo que na época designava o Oceano Atlântico. Pouco antes da partida, em meio ao choro dos parentes que temiam nunca mais ver seus entes queridos, uma missa era realizada em favor da tripulação. Para indenizar os que assumiam tão arriscada aventura, o governo português oferecia uma recompensa financeira à sua família equivalente a um ano de trabalho.
Durante a viagem, um oficial ficava postado em uma cadeira alta fixada na proa ou na popa da embarcação. Dali ele teria que contrapor as informações de seus mapas com a cor da águas, que variava de acordo com a profundidade do oceano. Após uma análise, uma série de ordens era repassada ao timoneiro. Logo em seguida, no convés da embarcação, o mestre designava as tarefas a serem rapidamente executadas pela sua equipe de marinheiros. Longe daquilo que se imagina, o capitão do navio era a pessoa que menos entendia das técnicas e expedientes que matinha o navio seguindo o seu roteiro de forma estável. Na maioria dos casos, ele era um nobre que representava a autoridade do rei na embarcação. Dessa forma, o capitão era quem exercia a função estritamente política de intermediar os conflitos entre os tripulantes e dar a palavra final sobre algum problema ou decisão a ser tomada.
Passada toda a agitação que cercava o cotidiano do navio diurnamente, os tripulantes se recolhiam à noite para buscar algum descanso no porão do navio. Nesse momento, marujos, soldados, cargas e animais se misturavam na insalubridade de um lugar nada confortável. Essa agonia só não era reservada aos que ocupavam altos cargos na embarcação. O capitão e os oficiais militares de alta patente costumavam se alojar em camarotes privados onde também poderiam levar os membros de sua família. Uma alimentação farta e saudável era praticamente impossível nesses mesmos ambientes. Não tendo espaço para estocar comida e água suficientes, os tripulantes passavam por sérias privações.
A ração diária fornecida aos tripulantes comuns não passava de três refeições compostas por biscoito, e duas pequenas doses de água e vinho. Somente os mais privilegiados tinham a possibilidade de usufruir de carnes, açúcar, cebolas, mel, farinha e das frutas que eram transportadas. Em situações mais extremas, os tripulantes poderiam comer alimentos crus mediante a falta de um fogareiro que pudesse preparar a refeição. Quando a fome apertava de vez, a ingestão de alimentos podres, insetos (baratas e ratos) e cadáveres humanos também apareciam como uma última alternativa. A forte tensão causada pela constante falta de alimento poderia até mesmo colocar a vida do capitão em risco, que sempre estava armado para não ser vítima de algum motim ou rebelião.
As munições eram muito bem guardadas e nenhum tripulante vulgar poderia se utilizar de armas sem a expressa autorização. O uso de armas só acontecia deliberadamente quando algum navio pirata atacava a embarcação. Caso contrário, seguia-se a dura rotina dessa aventura inglória em que se corria atrás das desejadas riquezas de outras terras e povos.